domingo, 8 de janeiro de 2012

O Educador Físico e seu papel na Alimentação Saudável

“Você é o que você come” – com base neste jargão, exaustivamente utilizado como exemplo, contemplamos a importância da alimentação para manutenção da vida e consequentemente saúde. Esta é uma questão de interesse pertinente não somente dos profissionais da saúde, mas da população como um todo. Muito se tem falado ao redor do mundo sobre a necessidade de uma conscientização acerca da relação entre alimentação e saúde. As últimas décadas foram palco de um aumento expressivo da prevalência das chamadas DNT - doenças crônicas não transmissíveis, como doença cardiovascular, diabetes, síndrome metabólica,obesidade, alguns tipo de câncer etc..



A alimentação saudável, ou pelo menos a mudança de alguns hábitos alimentares indesejáveis, tem se mostrado em diversos estudos como fator de prevenção de muitas moléstias. Hoje se sabe que não somente a carência de nutrientes pode levar a problemas de saúde, mas também o excesso e a má distribuição destes acarretam sérios desequilíbrios. A obesidade, fator de risco para inúmeros quadros patológicos, tem aumentado até mesmo nos países com baixo desenvolvimento econômico.

Mas qual seria a melhor definição de alimentação saudável, qual seu impacto na qualidade de vida das pessoas e que tipo de profissionais estariam gabaritados para recomendá-la? Em tese, somente o profissional de Nutrição estaria habilitado para orientar e intervir em situações desta natureza. Pois bem, é justamente esta temática que abordaremos no texto que se segue.

A alimentação saudável é por definição, a ingestão equilibrada de todos os macro e micro nutrientes a fim de suprir todas as necessidades do organismo. Em relação a alguns agentes externos nocivos, há também uma classe de alimentos denominados funcionais, que exercem notável papel na prevenção de muitos males. Segundo o Guia Alimentar para a População Brasileira (2006), as diretrizes para uma alimentação saudável em seu conteúdo são destinadas especialmente às pessoas envolvidas em saúde pública, notadamente os profissionais da área da saúde. Observe que existe uma preocupação por parte dos idealizadores do Guia em fazer de todo profissional da saúde um veículo de divulgação da proposta de alimentação saudável.

Entretanto, há uma certa confusão em relação às competências dos profissionais da área da saúde (especialmente o Educador Físico), quando o assunto é alimentação. As abordagens em relação à alimentação de maneira integrada e não quantitativa são legítimas a qualquer profissional envolvido em saúde pública, como corroboram as diretrizes do Guia Alimentar acima citado. Observe que, embora alguns profissionais façam uso indevido de suas competências, receitando prescrições dietéticas de natureza quantitativa, o que é absolutamente condenável para qualquer profissional que não seja nutricionista, é perfeitamente aceitável que se recomende ao seu aluno ou paciente (de forma informal e qualitativa) uma alimentação saudável e equilibrada, ressaltando as vantagens e benefícios da ingestão de determinados alimentos. Observe esta diretriz destinada aos profissionais de saúde de modo geral:

“ DIRETRIZ 1 * Abordar de maneira integrada a promoção da

alimentação saudável e o incentivo à prática regular

de atividade física.

* Orientar sobre a importância do equilíbrio entre o

consumo alimentar e o gasto energético para a

manutenção do peso saudável, em todas as fases do

curso da vida.

* Utilizar a avaliação antropométrica, nos serviços

de saúde (SISVAN), para acompanhamento do peso

saudável de pessoas em quaisquer fases do curso da vida.

* Estimular a formação de grupos para prática de

atividade física e orientação sobre alimentação

saudável nos serviços de saúde, nas escolas e em

outros espaços comunitários, sob supervisão de

profissional capacitado.” (BRASIL, 2006)

O Profissional de saúde, de um modo geral, encerra em sua formação conhecimentos comuns a diversas especialidades. Não saberia o Fisioterapeuta da importância da redução de sódio para prevenção de hipertensão? Não conheceria, o Geriatra, os benefícios da ingestão de fibras para o bom funcionamento do trato digestório? Não estaria habituado o Nutricionista, aos fenômenos bioenergéticos envolvidos na contração muscular? E quanto ao Educador Físico, não saberia este as interações entre a ingestão de carboidratos de baixo índice glicêmico e a manutenção da glicose sérica durante o exercício?

Frente a esta realidade, imaginemos uma situação na qual um profissional de Educação Física fosse indagado sobre quais nutrientes seriam adequados para fornecer energia para uma prova de ciclismo ou até mesmo para evitar uma hipoglicemia pós ou pré-prandial durante uma sessão de musculação: deveria este profissional se abster desta questão, se ele sabe respondê-la com clareza? Obviamente, a ética profissional deve limitar a intervenção até o limite de cada competência específica, porém não é este o caso. Trata-se apenas de orientação completamente informal. O que não deve acontecer, mas infelizmente acontece, é a prescrição formal por parte de profissional não habilitado. Segundo a lei Lei nº 8.234, de 17 de setembro de 1991, somente o Nutricionista pode elaborar prescrição dietética, entretanto alguns médicos costumam prescrever dietas, o que é totalmente inadequado.

Porém, talvez ainda pior situação ocorra graças a democratização do conhecimento disseminada na era digital. Com extrema facilidade, encontramos dietas para todos os gostos (da lua, do limão, do abacaxi e até da ÁGUA!), bem como prescrições de atividade física, na maioria das vezes feitas por leigos. Este sim, é um problema de dimensões muito maiores e que se constitui como verdadeiro crime contra a saúde pública. Muitas publicações, desde semanários até livros, também exploram o assunto. Quem não lembra da Dieta de Atkins, South Beach, do tipo sanguíneo etc.?

É extremamente oportuno ao profissional de Educação Física fazer considerações acerca da alimentação de seus alunos, porém respeitando as limitações éticas e profissionais de suas devidas competências. A partir de uma perspectiva totalmente informal, podem e devem ser feitas abordagens de caráter qualitativo em relação aos hábitos alimentares de seus clientes, a fim de se estabelecer uma melhora no rendimento da práticas propostas. Para uma maior especificidade é fundamental que se procure orientação nutricional especifica, de natureza quantitativa, por parte do profissional da área de nutrição. Somente este profissional poderá prescrever dieta. Da mesma forma, somente o Educador Físico poderá prescrever atividade física planejada, embora seja pertinente a todos os demais profissionais de saúde orientar e incentivar tais práticas.

O binômio atividade física e alimentação saudável já é conhecido por todos como a melhor forma de se promover saúde e qualidade de vida. A prática regular de atividade física tem sido associada, com ou mesmo sem a presença de uma dieta equilibrada, a diminuição do surgimento de Diabetes tipo II. Estudos mostram os benefícios do exercício físico no aumento da sensibilidade da insulina. (McAuley KA et al, 2002) Sabe-se que a RI - resistência a insulina – é fator para surgimento de síndrome metabólica, que implica em vários outros distúrbios. A atividade física exerce papel fundamental na diminuição do LDL (mau colesterol), entre muitos outros benefícios.

A OMS/FAO recomenda uma combinação de alimentação saudável, atividade física regular e interação social ampla para aquisição de um estilo de vida saudável e um conseqüente aumento da longevidade. Segundo documento publicado em 2002, deve-se incluir um mínimo de trinta minutos de atividade física moderada na maioria dos dias da semana somada à uma dieta saudável, a fim de se reduzir a carga global de DNT. Para implementação destas práticas, ressalta da importância de uma abordagem multissetorial que envolve os vários segmentos relevantes na sociedade. Tal abordagem consolida e valoriza a atuação de todos os profissionais de saúde pública, ressaltando cada vez mais a necessidade de interdisciplinaridade e atuação conjunta nesta área.

Com base nestas informações, percebe-se a importância da competência específica de cada um dos profissionais da saúde e a necessidade comum a todos de abordar, recomendar e orientar quanto à alimentação saudável e à prática regular de atividade física, todavia observando os limites de sua atuação profissional, assumindo uma postura pautada pela ética e pelo respeito ao próximo.

BONS TREINOS E ATÉ A PRÓXIMA!!!

 
Fonte: madilsonmedediros.blogspot.com